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Carta aberta ao prefeito eleito Eduardo Siqueira Campos

É bem verdade que praticamente sozinho e com 30 segundos de tempo de televisão o senhor conseguiu ficar em segundo lugar no primeiro turno

Alessandro Ferreira
Por: Alessandro Ferreira Fonte: Redação | Agência Tocantins
29/10/2024 às 09h27 Atualizada em 29/10/2024 às 14h04
Carta aberta ao prefeito eleito Eduardo Siqueira Campos
Eduardo Siqueira Campos, Prefeito eleito de Palmas - Foto: Divulgação

Coluna: Bastidores da Política tocantinense | Primeiramente gostaria de parabenizá-lo pela vitória neste segundo turno. É bem verdade que praticamente sozinho e com 30 segundos de tempo de televisão o senhor conseguiu ficar em segundo lugar no primeiro turno. Porém, ao contrário do que muitos dizem, no segundo turno não foi uma luta de Davi contra Golias, como muitos dizem, para ilustrar o apoio político que o senhor e a candidata Janad Valcari receberam. Isso soa como puro ufanismo de torcedores e leitores da sua base. Senão vejamos:

No segundo turno o senhor teve o mesmo tempo de TV; recebeu o apoio direto da máquina municipal, com a prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB), recebeu o apoio do terceiro colocado Júnior Geo (PSDB), recebeu apoio direto de dois deputados estaduais, Jair Farias e Vanda Monteiro, ambos do União Brasil, esta última com expressiva votação na capital.

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O senhor recebeu também o apoio direto do Deputado Federal Vicentinho Júnior (PP) que na semana da eleição trouxe uma penca de políticos nacionais, incluindo o presidente da Câmara dos deputados Arthur Lira; sem falar no apoio dos ex-prefeitos Carlos Amastha (PSB) e Raul Filho (PDT), junto com o vice-governador Laurez Moreira (PDT); e por fim, mas não menos importante, de parte da imprensa que agora tenta emplacar essa história de “Davi contra Golias”. Essa luta foi mais para Golias contra Golias.

CENÁRIO FINANCEIRO E ADMINISTRATIVO

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Mas, para além das considerações retóricas que não encontram eco na realidade fática e passada a autoria após-vitória e que o senhor pode e deve comemorar de forma efusiva, é preciso encarar o futuro que se avizinha de forma pragmática, com as dificuldades de se impõem na dura realidade do cenário financeiro e administrativo desenhado desde já.

Do ponto de vista local o senhor deve enfrentar um grande problema que será a herança financeira e administrativa deixada por sua predecessora. As notícias que chegam do Paço não são nada animadoras, com um rombo gigante nas contas públicas municipais, advindo principalmente da subvenção do transporte coletivo. Secretários dão notícias de cancelamentos de empenhos aos montes e uma folha de pagamento inchada com servidores contratados, comissionados e efetivos com salários altíssimos. Sem falar nos recursos drenados para o pagamento de empréstimos de cunho minimamente duvidoso, com juros exorbitantes contraídos durante esses 12 anos de gestão Cinthia/Amastha.

Tudo isso deve comprometer e muito a capacidade de investimento municipal, que tem diversas obras inacabadas e ainda muito por ser feito. O senhor não terá como há 32 anos atrás, quando o senhor foi gestor da cidade, quadras inteiras para permutar em galerias pluviais.

O senhor terá de enfrentar enquanto gestor a Lei de Responsabilidade Fiscal, que simplesmente não existia na sua época, e que, caso não conte com a benevolência dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE), todos nomeados pelo seu falecido pai, forçará o senhor a enfrentar a dura realidade que todos os outros gestores(as) enfrentam hoje em dia.

CENÁRIO POLÍTICO

Do ponto de vista político as dificuldades em seu horizonte não serão menores: A câmara de vereadores foi eleita com 16 vereadores de oposição e apenas sete de sua base eleitoral, o que demandará muita habilidade política e esforço para conseguir aprovar projetos. Do ponto de vista regional o senhor recebeu apoio direto de apenas dois deputados contra 17 que apoiaram sua adversária, sendo que destes últimos, muitos foram seus companheiros na Assembleia Legislativa do Tocantins, conhecendo-o muito bem e não coadunam com seus métodos de gestão, o que deve implicar em dificuldades para conseguir emendas dos mesmos.

Na esfera federal prevejo a mesma dificuldade destes últimos, já que sete deputados federais e três senadores não o apoiaram e já têm uma previsão de emendas federais totalmente comprometidas junto ao governo do estado e outras prefeituras do interior, uma vez que sua predecessora era altamente inábil em viabilizar essas emendas para a capital. O senhor terá que contar, é muito, com a articulação do seu único apoiador em nível federal, o deputado Vicentinho Júnior para tentar viabilizar emendas de outros parlamentares além dele próprio e que mesmo assim só devem começar a chegar com mais força a partir de 2026.

PALÁCIO ARAGUAIA

Um parceiro essencial que o senhor deveria contar seria com o governo do estado. Porém, o senhor precisará transpor problemas históricos em sua relação com o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) que inclusive motivaram o não apoio por parte dele à sua candidatura e que remetem à criação de Palmas em 1989.

Partindo do pressuposto do ditado popular “quem bate esquece, mas quem apanha não”, quando da criação da capital o senhor é seu pai Siqueira Campos tiraram da prefeitura de Palmas e de Fenelon Barbosa, pai de Wanderlei, a posse dos imóveis urbanos da capital. Era o governo do estado o proprietário dos terrenos da cidade, uma condição sui generis.

Ao assumir a prefeitura em 1993, após uma eleição em que foi apoiado forçosamente por Fenelon e a família Barbosa, o senhor tratou de exonerar dezenas de servidores de um concurso realizado pelo ex-prefeito.

Vindo para o tempo presente o senhor utilizou o último debate para atacar diretamente o governador em suas falas, acusando-o falsamente de não pagar os servidores no fim de semana para supostamente beneficiar a sua adversária. Mais de uma vez o senhor mencionou o governador e a Polícia Federal em uma mesma frase no afã de se defender da constatação de o senhor mesmo já ter sido conduzido pela PF em mais de uma oportunidade. Isso demonstrou para muitos que seus métodos nada ortodoxos de atacar os adversários não mudaram. Dito isto, em seu lugar, eu não esperaria boa vontade por parte do governo e nem do seu comandante para além do intrinsecamente necessário na relação institucional entre estado e prefeitura de Palmas.

CONCLUSÃO

Vou encerrando por aqui para não deixar esta carta deveras extensa. Desejo honestamente que o senhor consiga superar todas essas dificuldades que se avizinham para o bem da nossa cidade e do nosso povo, mas honestamente, conhecendo o seu histórico repleto de perseguições políticas e promessas não cumpridas. Não acredito que consiga, ao mesmo tempo em que torço para estar errado, e que do alto dos seus 65 anos o senhor tenha mudado como gestor, e principalmente como ser humano.

 

Palmas-TO, 29 de outubro de 2024.

 

(Jornalista: Alessandro Ferreira / Agência Tocantins)

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