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Laudo da PF aponta omissão e excesso de peso como causas da queda da ponte entre MA e TO que deixou 14 mortos

Estrutura construída na década de 1960 não suportou deformação no vão central; nova ponte está em construção com previsão de entrega em dezembro

Allessandro Ferreira
Por: Allessandro Ferreira Fonte: Redação | Agência Tocantins
27/07/2025 às 23h25 Atualizada em 27/07/2025 às 23h38
Laudo da PF aponta omissão e excesso de peso como causas da queda da ponte entre MA e TO que deixou 14 mortos
Ponte Juscelino Kubitschek, que ligava os municípios de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO) – Foto: Reprodução / Agência Tocantins

Mais de sete meses após a tragédia que matou 14 pessoas e deixou outras três desaparecidas no Rio Tocantins, a Polícia Federal concluiu o laudo pericial sobre a queda da ponte Juscelino Kubitschek, que ligava os municípios de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO). O relatório revela que o colapso da estrutura foi provocado por deformações no vão central, causadas pelo excesso de peso de veículos que transitavam sobre a ponte.

O desabamento ocorreu no dia 22 de dezembro de 2024, véspera de Natal, quando dezenas de veículos cruzavam a ponte. No total, 18 pessoas caíram no rio — apenas uma sobreviveu.

A investigação da PF durou mais de sete meses e utilizou tecnologias como drones, scanners a laser e modelagem 3D para reconstruir o cenário do acidente. Segundo o perito criminal federal Bruno Salgado Lima, o colapso ocorreu em poucos segundos. “No momento em que esse vão central foi cedendo, isso causou um esforço lateral na ponte, que causou aquela rachadura que a gente vê na filmagem”, explicou.

Construída na década de 1960, durante o governo de Juscelino Kubitschek, a ponte tinha 140 metros de vão livre, um marco da engenharia brasileira na época. A estrutura usava concreto protendido, tecnologia de ponta para o período. No entanto, com o passar das décadas, a ponte não acompanhou o crescimento da frota de veículos e o aumento da carga transportada. Além disso, os materiais sofreram desgaste natural.

As conclusões sobre o desabamento da ponte que matou 14 pessoas - Foto: Reprodução / Agência Tocantins
As conclusões sobre o desabamento da ponte que matou 14 pessoas - Foto: Reprodução / Agência Tocantins

 

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A última grande intervenção na ponte ocorreu entre 1998 e 2000. Segundo os peritos, um reforço lateral foi instalado e uma nova camada de asfalto foi aplicada, substituindo o concreto original. Essa mudança pode ter comprometido a integridade da ponte. “Esse reforço foi arrancado do concreto como se fosse fita crepe”, descreveu o perito Laércio de Oliveira Silva Filho.

Em 2019, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) encomendou um relatório técnico, publicado em 2020, que já alertava para as condições críticas da ponte. O documento apontava vibrações excessivas e rebaixamento de 70 centímetros no vão central, classificando a estrutura como “sofrível e precária”, e recomendava reformas urgentes.

Em 2024, uma tentativa de licitação foi feita para recuperação da ponte, mas fracassou. O desabamento ocorreu antes que uma nova contratação fosse concluída.

Com base no laudo, a Polícia Federal agora pretende ouvir os responsáveis pelo planejamento de manutenção da ponte. “Queremos entender por que o reparo não foi feito e por que o fluxo na ponte não foi interrompido”, afirmou o delegado Allan Reis de Almeida. Para ele, há indícios claros de crime. “Houve uma omissão por parte de agentes públicos quanto à manutenção da obra. Não posso falar que esse desastre foi um caso fortuito. Ele foi anunciado, era de conhecimento, e era plausível que poderia acontecer.”

O DNIT informou que os trabalhos da comissão técnica que apura os fatos foram finalizados e encaminhados à corregedoria do órgão. O Ministério dos Transportes, por sua vez, informou que o superintendente regional do DNIT no Tocantins, Renan Bezerra de Melo Pereira, foi exonerado em abril. Em nota, ele disse que exerceu o cargo com zelo e responsabilidade por apenas um ano e cinco meses, que aguarda os laudos técnicos e nega responsabilidade pela tragédia.

Entre as vítimas da tragédia está a família de Alessandra, que viajava com o marido, Salmon, e o neto Felipe, de 10 anos. Eles haviam saído de Palmas rumo ao Maranhão e se despediram da família um dia antes do acidente. Apenas o corpo de Alessandra foi localizado; os de Salmon e Felipe continuam desaparecidos. “É muito sofrimento para a nossa família”, desabafou a parente Maristelia Alves.

A ponte foi implodida em fevereiro e, no mesmo local, uma nova estrutura está sendo construída. Com 630 metros de extensão e um vão central de 154 metros, sustentado por pilares com altura equivalente a um prédio de sete andares, a nova ponte está orçada em R$ 171 milhões e deve ser entregue até dezembro de 2025.

Ponte Juscelino Kubitschek, que ligava os municípios de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO) – Foto: Reprodução / Agência Tocantins
Ponte Juscelino Kubitschek, que ligava os municípios de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO) – Foto: Reprodução / Agência Tocantins

 

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Enquanto isso, a travessia entre os dois estados é feita por balsas, com longas filas e esperas que podem durar horas. “Às vezes, eu chego aqui meio-dia e só consigo atravessar às 10 da noite”, relatou o caminhoneiro Júlio César.

Para o diretor técnico-científico da PF, Roberto Reis Monteiro Neto, o caso serve de alerta para autoridades. “Se eu tenho uma manutenção adequada, no tempo certo, e reavaliações periódicas da carga suportada pelas pontes, talvez a gente consiga evitar que isso aconteça novamente.”

 

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(Reportagem: Allessandro Ferreira / Agência Tocantins com informações do Fantastico)

 

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