O projeto de lei do deputado Bibo Nunes (PL-RS), que propõe reduzir o prazo de inelegibilidade de oito para dois anos, não beneficiaria apenas o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas também outros políticos que, atualmente, estão impedidos de disputar eleições.
Entre os possíveis beneficiados estão a deputada Carla Zambelli (PL-SP), o ex-deputado Valdevan Noventa (PL-SE), o ex-deputado estadual do Paraná Fernando Francischini e o governador de Roraima, Antonio Denarium (PP).
A proposta em tramitação na Câmara altera um trecho do artigo 22 da Lei de Inelegibilidade, que trata especificamente do período de inelegibilidade imposto a políticos condenados por abuso de poder político ou econômico pela Justiça Eleitoral.
Bolsonaro foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em dois processos. O tribunal entendeu que ele cometeu abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação em dois episódios de 2022:
A Lei de Inelegibilidade, criada em 1990, prevê diversas situações que podem tornar um político inelegível, incluindo:
Em 2010, com a criação da Lei da Ficha Limpa, foram feitas duas mudanças importantes:
Essas regras valem para qualquer tipo de condenação: criminal, improbidade administrativa ou abuso de poder político.
O projeto de Bibo Nunes não reduz o prazo de inelegibilidade para todos os casos, mas apenas para condenações por abuso de poder político ou econômico na Justiça Eleitoral — exatamente a situação de Bolsonaro.
"Isso é casuísmo. São muitas as hipóteses de inelegibilidade, mas ele está alterando apenas a que atingiu Bolsonaro. É uma mudança cirúrgica", critica o jurista Márlon Reis, um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa. "E essa alteração enfraquece o combate à corrupção eleitoral."
Caso o projeto seja aprovado, políticos atualmente inelegíveis poderiam concorrer novamente já em 2026. Entre eles:
Na última semana, Bolsonaro usou as redes sociais para criticar a Lei da Ficha Limpa, afirmando que ela tem sido usada para "perseguir políticos de direita".
No entanto, em 2018, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi impedido de disputar a eleição com base na mesma legislação. À época, ele estava condenado criminalmente em segunda instância na Operação Lava Jato.
A aplicação da Lei da Ficha Limpa não se restringe a um espectro político. De acordo com dados do TSE, na eleição municipal de 2024, 11 políticos de diferentes partidos foram cassados por abuso de poder político. A distribuição partidária foi:
Além disso, outros 1.967 candidatos tiveram o registro indeferido por estarem inelegíveis, abrangendo representantes de todas as siglas.
Se aprovada, a mudança na lei poderá reconfigurar o cenário eleitoral brasileiro, facilitando o retorno de políticos que, atualmente, estão impedidos de concorrer.