Brasília – 5 de junho de 2025 – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prestou depoimento à Polícia Federal nesta quinta-feira (5) no âmbito do inquérito que apura a atuação do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em território norte-americano, supostamente com o objetivo de pressionar o governo dos Estados Unidos a aplicar sanções contra autoridades brasileiras. Ao deixar a sede da PF em Brasília, Bolsonaro confirmou ter transferido R$ 2 milhões ao filho e alegou que os valores têm origem lícita.
— Eu botei 2 milhões na conta dele, ok? Lá fora tudo é mais caro. Eu tenho dois netos, um de quatro e outro de um ano. Eu quero o bem-estar dele — disse o ex-presidente. Segundo ele, os recursos vieram de doações recebidas via Pix em 2023, em uma campanha organizada por aliados para quitar multas acumuladas durante a pandemia de Covid-19. À época, o ex-mandatário arrecadou cerca de R$ 17 milhões.
Durante a oitiva de aproximadamente duas horas, Bolsonaro afirmou não ter qualquer relação com a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que teve a prisão preventiva decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Zambelli encontra-se foragida e teve seu nome incluído na lista de difusão vermelha da Interpol. “Não tenho nada a ver com ela. Não fiz nenhum Pix para a deputada”, declarou o ex-presidente.
O depoimento de Bolsonaro integra as investigações conduzidas pelo ministro Alexandre de Moraes no STF, que também relata a ação penal que o coloca como réu por suposta tentativa de golpe de Estado. A PF apura se Eduardo Bolsonaro cometeu os crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação de organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
De acordo com as investigações, Jair Bolsonaro seria beneficiário direto das supostas articulações do filho e se autodeclarou responsável financeiro pela estadia do deputado nos Estados Unidos. O ex-presidente confirmou essa condição formalmente à PF.
Embora negue atividades de lobby, Bolsonaro defendeu as ações do filho, alegando que se tratam de “defesa da democracia” e de “liberdade de expressão”. O advogado do ex-presidente, Paulo Bueno, argumentou que eventuais sanções do governo norte-americano podem ter sido motivadas por outros fatores, como a suspensão de contas nas redes sociais.
Alexandre de Moraes determinou ao Itamaraty que indique autoridades diplomáticas aptas a prestar esclarecimentos sobre a atuação de Eduardo Bolsonaro em solo americano. Como Eduardo está licenciado do mandato desde fevereiro e reside nos EUA, Moraes autorizou que ele preste depoimento por escrito.
O inquérito teve início após representação feita pelo deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do partido na Câmara. Em depoimento à PF, Farias acusou Eduardo de promover ações para “intimidar” o Supremo e “depredar simbolicamente” instituições do Estado brasileiro. O parlamentar também solicitou o bloqueio de bens de Jair Bolsonaro, a fim de impedir que os recursos continuem a financiar o que classificou como “golpe continuado”.
As declarações de Bolsonaro reacendem o debate sobre os limites do financiamento privado de figuras públicas sob investigação. Ao mesmo tempo, reforçam a tensão entre os Poderes e a atuação do STF em casos envolvendo a antiga cúpula do Executivo.
A estratégia da defesa de Bolsonaro mira na dissociação entre os atos do deputado licenciado e o comando direto do ex-presidente. No entanto, a admissão de que ele sustenta financeiramente o filho no exterior pode reforçar os vínculos materiais apontados na investigação.
O avanço do inquérito poderá definir o alcance da responsabilização de Jair e Eduardo Bolsonaro em relação aos episódios relacionados à tentativa de ruptura institucional ocorrida no Brasil, além de possíveis consequências diplomáticas no cenário internacional.